Caetano - por isso é um gueto. porque é fechada; é uma vida fechada. a vida da língua portuguesa é fechada ao mundo da língua portuguesa. não é como o inglês ou espanhol, entendeu? não é tão fechado quanto o esloveno, porque o esloveno é falado por um grupo pequeníssimo de pessoas apenas na Eslovénia. português é falado em Portugal, um país pequeno, mas que fez grandes viagens; e ao fazê-las, levou a língua, daqui, dessa ponta da Península Ibérica, para várias partes do mundo; e uma delas é o imenso Brasil.
CVM - acredita numa ideia de lusofonia?
Caetano - isso é a lusofonia! esse mundo onde se fala português.
CVM - acredita que há uma especificidade lusófona?
Caetano - sem dúvida! sempre há! onde há uma língua há alguma especificidade, ligada ao facto que é aquela língua que é falada e não outra. sempre há, isso é inescapável!
CVM - ainda gosta de sentir a sua língua roçar a língua de Luís de Camões?
Caetano - sim, gosto. gosto, porque eu gosto de falar, gosto de conversar e gosto de escrever. gosto de ler e gosto de ouvir. e para isso é preciso palavras, para palavras é preciso língua, e a minha língua, que eu aprendi primeiro, que minha mãe falava, meu pai falava, meus irmãos e meus vizinhos era o português. então, eu amo a primeira língua que eu falei, mas amo as outras também. vou dizer igualmente. só não é igualmente porque eu não tenho capacidade de ter a intimidade com as outras línguas que eu posso ter com o português. mas a língua, as palavras, é uma coisa que me dá prazer.
Caetano Veloso & Carlos Vaz Marques - Pessoal e Transmissível
Sem comentários:
Enviar um comentário