40 anos de democracia que passaram por esta nossa terra e o Barreiro continua a ser terra de barreirenses. Perdoem-me esta redundância, evidentemente La Paliceana. Explico. Sempre fomos de duas margens, fragmentados pelo Tejo que só não é mais belo que o rio que corre na nossa aldeia porque é o rio que corre na nossa aldeia. Cidadãos pendulares, acostumados ao ir e vir balançado, ondulado, que nos leva muito para além da capital. Temos sangue alentejano, algarvio, beirão, alfacinha, suburbano, e mais um pouco daqui e dali.
É com carolice que olhamos para esta nossa terra e que nos entristecemos com cada partida; sabemos de cor os nomes de quem deixou o Barreiro e compõem o número redondo de dez mil habitantes que, daqui, já não o são. É por carolice que lutamos pelo sonho que nos disseram ser esta terra, porque o futuro foi sendo sempre adiado. Da cidade industrial que morreu, sem mitos de fénix, podia ter nascido uma outra, de olhos postos no rio, explorando a frente ribeirinha, a valer-se da inovação e criatividade das suas gentes, assente no desenvolvimento económico através da reconversão do antigo tecido fabril, a recuperar o património edificado do centro histórico da cidade ao invés da desenfreada construção “nova” que promoveu, apostando, também, na sua vida nocturna, marco tão importante na nossa memória colectiva.
Ano após ano, as oportunidades parecem fugir-nos por entre os dedos, por entre os apontamentos fugazes que nos enchem mais o ego que a esperança. Por carolice, no Barreiro, os barreirenses continuam a imperar contra a lógica reinante. Abrem novos negócios, dinamizam o espaço público, criam associações culturais e desportivas, novos festivais. Não se conformam. O Barreiro continua a ser terra de barreirenses. Dos que o sempre foram, dos que continuam a ser, dos que saíram sem nunca ter deixado de o ser e dos que um dia o serão. O Barreiro será sempre a nossa terra, mesmo quando a contemplamos do outro lado. E por carolice, como bons barreirenses que somos, dela faremos terra de sonho e de futuro.
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