28 de abril de 1974. não havia dias normais, naqueles que se seguiram ao dia inicial inteiro e limpo. 28 de abril de 1974. de entre os dias especiais aquele sê-lo-ia um pouco mais do que os outros. Mário Soares chega a Santa Apolónia trazendo consigo de Bad Münstereifel o Partido Socialista. se Soares não tivesse chegado naquele dia, o 28 de Abril teria sido sempre um dia especial. assim, foi um dia histórico. a pedido do General Spínola, Soares torna-se Ministro dos Negócios Estrangeiros com vista ao reconhecimento do novo regime português junto da comunidade internacional. já se sabe, vem nos livros, o poder só o é quando é reconhecido como tal e tem capacidade para ser usado.
25 de abril de 1975. os dias haviam seguido especiais, em busca da normalidade. 25 de abril de 1975. um ano volvido e um dia que, para além de especial, era também histórico. era o primeiro ano, quão mais histórico poderia ser? quando as urnas fecharam, naquele dia especial e histórico e das primeiras eleições democráticas após 48 anos de obscurantismo, o Partido Socialista, que Soares havia trazido para Portugal um ano antes, tinha obtido 37,9% dos votos e eleito 116 deputados para a Assembleia Constituinte.
2 de abril e 25 de abril de 1976. os dias normalizavam-se por estes lados, numa sucessão de dias especiais. 2 de abril e 25 de abril de 1976. a Assembleia aprova a Constituição da República Portuguesa para que ela entrasse em vigor no segundo aniversário da Revolução. dias históricos, impressos na memória de uma nação que refloresceu na primavera, como os cravos fazem todos os anos. os dias seguiram normais, ou normalizaram-se.
ao longo destes anos, Portugal procurou encontrar-se com a democracia e o PS afirmou-se determinante nesta reconstrução democrática do país. por seu lado, no interior do Partido Socialista, o seu líder e fundador desempenhou sempre um papel activo de orientação ideológica e política, quer das várias lideranças - mesmo daquelas que dele se afastaram e lhe disputaram o espaço interno - quer dos militantes de base. não esteve sempre certo, como ninguém está sempre; não foi sempre consensual ou unânime, como não podem ser os homens que defendem as suas convicções; tão pouco foi sempre conveniente às diversas lideranças do partido, como não se esperava que fosse.
31 de maio de 2014. no Vimeiro, perante um partido dividido, com análises diferentes dos resultados eleitorais da semana anterior, que inferiam de análises diferentes do trabalho político de António José Seguro enquanto líder, um dia normal transforma-se num dia especial. 31 de maio de 2014. um dia normal dos muitos normais que fazem parte da vida democrática de um país, de um partido democrático, deixou de o ser. no dia anterior, Mário Soares, líder e fundador do PS, havia declarado o seu apoio a um dos candidatos à liderança do partido e considerado inevitável a convocação de um congresso extraordinário, com as respectivas eleições directas para o cargo de Secretário Geral. no dia 31 de maio de 2014, no Vimeiro, um dia mais que normal, quase banal de tão normalzinho, tornou-se um dia histórico. ignorando o passado e a tradição do partido, a actual liderança lançou o partido num enredo kafkiano e todos nós nos transformámos em Josef K. o processo começou torto e já não se vai endireitar. primeiro, tinha de ser a comissão nacional ou a maioria das federações a lançarem o processo de convocatória do congresso extraordinário e de eleições directas, já que o SG continuava seguro. depois, afinal, os estatutos, que foram alterados à margem dos próprios estatutos, num outro qualquer dia que devia ter sido normal e não foi, deixaram de dizer o que lá diziam. e aquilo que lá não dizia - melhor, aquilo que lá não podia constar por ser contra os próprios estatutos - foi aprovado como se assim tivesse sido sempre. e quem devia ter salvaguardado o partido - a sua presidente - e os estatutos - a Comissão Nacional de Jurisdição - decidiu reservar o seu lugar na história e validar aquilo que não tinha cabimento de qualquer tipo ou natureza - política, estatutária ou, até mesmo, do velho bom senso. a 31 de maio de 2014, o jogo estava a decorrer e alteraram-se as regras. pior, anunciou-se que as regras iam mudar mas que era uma das equipas que ia fazer as novas regras.
31 de maio de 2014. nesse dia que deixara de ser normal, enquanto as regras mudavam, transformava-se, também, a tradição e o respeito democrático interno no Partido Socialista. enquanto se pretendia tornar ilegítima a divergência de opiniões, choviam insinuações sobre o estado mental de Soares. Soares discordava, mais uma vez, de uma liderança do PS e manifestava-o, alertando para aqueles que considerava serem os perigos institucionais que encerrava a não convocação de eleições e do congresso, bem como a desorientação que considerava ver na actual liderança de Seguro. a 31 de maio de 2014, Soares e os militantes do PS foram desconsiderados, não com base em argumentos políticos, mas com alegações de senilidade e de maquiavelismo. no dia 31 de maio de 2014, a normalidade não imperou e aquele dia tornou-se especial. o dia 31 de maio de 2014 tornou-se especial porque entrou para a história como o dia em que se tentou eliminar o normal funcionamento institucional e democrático do PS.
como os dias não terminam e a história não pára, o dia 28 de setembro de 2014 já não pode ser um dia normal. o dia 28 de setembro, que ia ser um dia normalzinho e banal, vai ter de ser um dia especial. façamo-lo entrar na história.
ao longo destes anos, Portugal procurou encontrar-se com a democracia e o PS afirmou-se determinante nesta reconstrução democrática do país. por seu lado, no interior do Partido Socialista, o seu líder e fundador desempenhou sempre um papel activo de orientação ideológica e política, quer das várias lideranças - mesmo daquelas que dele se afastaram e lhe disputaram o espaço interno - quer dos militantes de base. não esteve sempre certo, como ninguém está sempre; não foi sempre consensual ou unânime, como não podem ser os homens que defendem as suas convicções; tão pouco foi sempre conveniente às diversas lideranças do partido, como não se esperava que fosse.
31 de maio de 2014. no Vimeiro, perante um partido dividido, com análises diferentes dos resultados eleitorais da semana anterior, que inferiam de análises diferentes do trabalho político de António José Seguro enquanto líder, um dia normal transforma-se num dia especial. 31 de maio de 2014. um dia normal dos muitos normais que fazem parte da vida democrática de um país, de um partido democrático, deixou de o ser. no dia anterior, Mário Soares, líder e fundador do PS, havia declarado o seu apoio a um dos candidatos à liderança do partido e considerado inevitável a convocação de um congresso extraordinário, com as respectivas eleições directas para o cargo de Secretário Geral. no dia 31 de maio de 2014, no Vimeiro, um dia mais que normal, quase banal de tão normalzinho, tornou-se um dia histórico. ignorando o passado e a tradição do partido, a actual liderança lançou o partido num enredo kafkiano e todos nós nos transformámos em Josef K. o processo começou torto e já não se vai endireitar. primeiro, tinha de ser a comissão nacional ou a maioria das federações a lançarem o processo de convocatória do congresso extraordinário e de eleições directas, já que o SG continuava seguro. depois, afinal, os estatutos, que foram alterados à margem dos próprios estatutos, num outro qualquer dia que devia ter sido normal e não foi, deixaram de dizer o que lá diziam. e aquilo que lá não dizia - melhor, aquilo que lá não podia constar por ser contra os próprios estatutos - foi aprovado como se assim tivesse sido sempre. e quem devia ter salvaguardado o partido - a sua presidente - e os estatutos - a Comissão Nacional de Jurisdição - decidiu reservar o seu lugar na história e validar aquilo que não tinha cabimento de qualquer tipo ou natureza - política, estatutária ou, até mesmo, do velho bom senso. a 31 de maio de 2014, o jogo estava a decorrer e alteraram-se as regras. pior, anunciou-se que as regras iam mudar mas que era uma das equipas que ia fazer as novas regras.
31 de maio de 2014. nesse dia que deixara de ser normal, enquanto as regras mudavam, transformava-se, também, a tradição e o respeito democrático interno no Partido Socialista. enquanto se pretendia tornar ilegítima a divergência de opiniões, choviam insinuações sobre o estado mental de Soares. Soares discordava, mais uma vez, de uma liderança do PS e manifestava-o, alertando para aqueles que considerava serem os perigos institucionais que encerrava a não convocação de eleições e do congresso, bem como a desorientação que considerava ver na actual liderança de Seguro. a 31 de maio de 2014, Soares e os militantes do PS foram desconsiderados, não com base em argumentos políticos, mas com alegações de senilidade e de maquiavelismo. no dia 31 de maio de 2014, a normalidade não imperou e aquele dia tornou-se especial. o dia 31 de maio de 2014 tornou-se especial porque entrou para a história como o dia em que se tentou eliminar o normal funcionamento institucional e democrático do PS.
como os dias não terminam e a história não pára, o dia 28 de setembro de 2014 já não pode ser um dia normal. o dia 28 de setembro, que ia ser um dia normalzinho e banal, vai ter de ser um dia especial. façamo-lo entrar na história.
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