terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

sobre coisas... outra vez...

tenho querido escrever, mas não sei bem sobre o quê. há coisas que me desassossegam, que me inquietam, mortificado fico. Erasmo, o de Roterdão, escreveu muito, sobre coisas, concretas, sérias, sobre a vida. elaborou uma compilação de provérbios e ditados populares, adagiorum collectanea, um de entre oitocentos, a guerra é doce para quem não a experimentou. Vegécio, o de Roma, cidade imperial, explicou e não confies demasiado se o soldado bisonho tem vivo desejo de combater, pois a luta é doce para os que não a experimentaram, mas, caso lhe acuda à memória, assusta desmedidamente quem quer que seja que a conheça.
preocupam-me os exércitos profissionais; que profissão têm então os soldados que não a de fazer a guerra? um sentimento de inquietude perturbante quando ouço um oficial da marinha americana dizer, off the record (ou seja, em dissonância com a posição oficial do governo), que se a industria militar dos estados unidos parasse ou fosse desmantelada, as consequências seriam catastróficas e toda a economia ruiria. assusta-me, sobretudo, por pessimismo, ou não, escutar o meu avô dizer que o factor de equilíbrio mundial, e europeu em particular, só virá com uma guerra.
aflige-me a luta no país basco, a liga do norte em Itália, a extrema direita na mittleuropa, os minaretes na suíça, o radicalismo (islâmico) em qualquer lado, as armas nucleares em todo o lado. apoquenta-me a intolerância, a incompreensão, a presunção, sobretudo a presunção. a presunção da falta de humildade, de quem se arroga o direito de dizer tudo sobre todos, de quem faz opiniões sem o mínimo rigor nas palavras que escolhe e utiliza, sem perceber que a palavra é uma arma, criada para ser inofensiva, tantas vezes subvertida para a infâmia e o perjúrio.
angustia-me o presente, o futuro que se apresenta. nada se aprendeu, os mesmos erros cometem-se vezes atrás de vezes. ignora-se Erasmo, o tal de Roterdão sendo a paz a melhor e a mais aprazível de todas as coisas, e a guerra, ao invés, não só a mais deplorável, como, ao mesmo tempo, a mais criminosa: acaso consideraremos que estão em seu perfeito juízo estes homens que, embora possam, com pequeno trabalho, alcançar a paz, preferem mesmo assim procurar a guerra através das maiores dificuldades?
como saber escrever outra coisa que não a angustia da destruição do homem contra o homem...?

1 comentário:

Inês disse...

Muitas vezes partilho das mesmas angústias.
É o "tal" Mundo em que vivemos.*