recordo-me bem de vários debates que fui tendo com os cavaleiros do liberalismo, arautos da iniciativa privada. o tema, as "novas oportunidades", reunia, junto destes vanguardistas, um incrível consenso. e os elogios ao programa não eram poupados: facilitismo, oportunismo, falta de rigor, falta de credibilidade, amiguismo, injustiça, deslealdade, aproveitamento, incompetência, desperdício de fundos.
por uma vez, os membros do governo cumpriram com o prometido antes de serem eleitos para o cargo que ora ocupam e, logo que em plena posse, decidiram encerrar o malfadado programa. fim por decreto dos centros que o albergavam e despedimento sumário de quem nele exercia legitimamente a sua profissão. missão sobejamente bem cumprida.
recordo-me bem de vários debates com os mais radicais defensores do programa, os mais comprometidos com a iniciativa, alguns dos seus responsáveis, dos que a idealizaram e aplicaram. um incrível consenso na assunção das falhas - curriculares, letivas, de avaliação. havia desfasamentos, facilitismo, desadequações. e havia essa consciência. nada de extraordinário, portanto. a solução lógica seria corrigi-los, algo que reunia consenso e unanimidade, também, entre estes últimos. não era, não foi, a solução lógica.
com este encerramento, faltou uma coisa a este governo: perceber a essência do nome da coisa. não há desadequamento algum aí - o programa, era, foi, de facto, uma nova oportunidade para quem não a tinha tido ou a tinha desaproveitado. era, foi, a oportunidade de entender que o desemprego é o maior flagelo social que uma comunidade pode enfrentar, que a falta de realização profissional corrói o funcionamento da própria sociedade à velocidade de uma térmita, seguindo o mesmo padrão e adoptando as suas características, lentamente até à deterioração final súbita e repentina. que esta era, foi, uma nova oportunidade para combater o atraso educacional, o atraso na literacia que, ainda hoje, temos de dívida do tempo da outra senhora.
o combate ao facilitismo faz-se numa linguagem própria, o idioma eduquês, falado pela pseudo elite cratina, que considera que é preciso aumentar a exigência dos programas curriculares, endurecer os critérios de avaliação, apertar a malha da excelência. a pseudo elite cratina discordará de tudo o que aqui se discorre. corrijo, concordará com a dívida do tempo da outra senhora - a dívida de gratidão que, ainda hoje, temos.
vivam as cratinices!
vivam as cratinices!
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