terça-feira, 17 de janeiro de 2012

quem se importa?

17 de janeiro, 2012. faz hoje 1 ano. 1 inteirinho, daqueles com 365 dias bem redondinhos. quase 5 anos depois. foi em 2007. já lá vão 5 trabalhos diferentes. 3 estágios. 1 ano a trabalhar no mesmo sítio. a 1ª vez. com contrato. seguem-se, espera-se, mais 9 meses. com contrato. muitos números, 1 pensamento, impronunciável. mais 1 número, foi aos 25. o pensamento: nem é muito mau.

não ia ser assim. não devia ter sido assim. eu ia mudar o mundo. ou só combater a hipocrisia. e a precariedade. juntei-me a ela.

que importa se aos 11 anos o meu avô carregava vigas de ferro de um lado ao outro de Lisboa? e que antes tivesse estado a ajudar os pais a preparar a banca no mercado, logo pela "fresquinha", às 4 da manhã. deitar cedo e cedo erguer, não deu saúde, mas fez o fascismo florescer. e que ele se tenha reformado aos 65, com 54 de de trabalho. que importa?

que importa se, por causa disso, o meu avô teve de aprender a ser o mais culto dos homens sozinho? que importa se as lutas sindicais do meu avô por mais direitos e protecção no trabalho estão a ir por água abaixo?

que importa se bastou apenas pouco mais de meio século para estarmos todos a duplipensar e que conceitos como horas extraordinárias tenham sido substituídos pelos seus correspondentes em novilíngua como competitividadedefensum ou produtividadeaumentum?

não ia ser assim. não devia ter sido assim. não lhe ia dar razão. era só um reality show. só um big brother. para ver como é que corre. correu bem. ganhou-nos, a todos.

que importa se, na mudança dos ciclos, não se depura a escória e a mediocridade? que importa se se destrói tudo o que se conquistou e, mais importante, tudo o que está certo? que importa se as pessoas perderam valor? que o ser humano seja uma moeda que desvaloriza com a inflação dos mercados financeiros? que importa?

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