hoje é dia da República. não de uma qualquer imaginária, mas da nossa, da portuguesa. hoje, pela terceira vez, não é feriado, forma simbólica de assinalar um dia histórico, determinante para a evolução e consolidação do nosso regime democrático - porque a República é, sobretudo, sobre democracia, renovação de mandatos e a sua legitimidade. hoje, pela primeira vez, o Presidente da República não comemora a República. mas, se outra prova fosse necessária, 105 anos depois, e mesmo apesar da negritude dos 48 anos de interrupção, as eleições de ontem demonstram a sua vivacidade. e que ela sobrevive aos golpes contra ela desferidos.
os resultados de ontem constituem o triunfo de uma visão de sociedade e de estado na qual não me revejo. um estado reduzido aos seus serviços mínimos, uma sociedade injusta e desigual. elegeu-se um governo que, à semelhança do que fez nos últimos quatro anos, continuará a destruir os mecanismos de proteção social, a tentar privatizar os últimos recursos económicos do Estado e a aumentar o fosso entre ricos e pobres, jovens e seniores, empregados e desempregados, os que ficaram e os que partiram, aparentemente, até, entre o norte e o sul. ontem, como há quatro anos, a vitória veio assente em falsas promessas, em mentiras, em ocultações. amanhã, como antes, saber-se-á o que foi escondido, mesmo com o rabo de fora.
com os resultados de ontem, a lição também fica para quem com ela quiser aprender. e há uma renovação no socialismo que é necessária fazer. recentrá-lo à esquerda. e não dividir para reinar. sobretudo não dividir para reinar.
com os resultados de ontem, o dia hoje amanheceu cinzento, metáfora sublime do porvir. mas, como diz o Chico Buarque, na música que tudo cura, "Hoje [ontem] você é quem manda | Falou, tá falado | Não tem discussão | A minha gente hoje anda | Falando de lado | E olhando pro chão, viu". felizmente, "Apesar de você | Amanhã há de ser | Outro dia | Você vai ter que ver | A manhã renascer | E esbanjar poesia | Como vai se explicar | Vendo o céu clarear | De repente, impunemente | Como vai abafar | Nosso coro a cantar | Na sua frente"
avante, camarada. amanhã há de ser outro dia.
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