terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

sobre a política

'globalização em trincheiras'

lembro-me de, há uns anos, a Alexandra Prado Coelho ter escrito um artigo intitulado "As elites já não querem estudar Letras". neste artigo ela explicava que as humanidades e as letras perderam o interesse ao mesmo tempo que desceram as taxas de empregabilidade e que, para a elite portuguesa, estudar estas áreas do saber era redundante e uma perda de tempo, para não falar de uma condenação à miséria económico-social. bem, não sei muito sobre as elevadas taxas de empregabilidade dos estudantes de letras e de humanidades, mas gostava de saber algo mais sobre os números de quem estuda e termina os seus estudos de economia. não sei em que momento concreto é que isto aconteceu mas, de repente, a economia passou a ser gestão e deixou de ser economia. não se planifica e não se compreende, gere-se. e qualifica-se. ratings. MBA são cool e as escolas digladiam-se para terem os melhores dos melhores. e gere-se.

também sei que não se fala de Friedman nos MBA. fala-se sem se falar. fala-se só do que ele nos impôs, com naturalidade. aceita-se. e também não se fala da Thatcher ou do Reagan. mas devia. gerir foi tudo o que fizeram. estados como famílias, em busca do maior lucro. da mesma forma que não se fala de Marx ou de Keynes. fala-se de gestores. e eu não sei bem quem são as referências deste pequeno universo. e esta é a parte que mais me intriga. o que é que se gere exactamente se não se sabe ao certo o que se tem pela frente? porque caminhos é que se levam as empresas e os bancos se não se percebe bem como chegámos onde chegámos e como saímos do sítio onde estamos. que sociedade se constrói exactamente?

intriga-me sim, como deixámos subordinar a política à economia; mas intriga-me tremendamente saber como é que subordinámos a gestão à economia. gere-se o que não se compreende na esperança de que o rumo se trace miraculosamente; de que, por magia, buscando o máximo proveito e lucro se construa uma sociedade mais justa e paritária. de que, sem saber quem foi Friedman, se consiga combater os seus desígnios e que, sem saber quem foi Marx, se produza espontaneamente uma revolução. até lá, vai-se gerindo.

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