terça-feira, 27 de novembro de 2012

sobre o admirável mundo já não tão novo...

Para mim a grande questão é perceber a forma como os governos autocráticos, e de alguma maneira activistas pela democracia, foram bem sucedidos ao colocar a tecnologia ao seu serviço. Se olharmos para os últimos três anos, encontramos exemplos que indicam que algumas destas tecnologias ajudaram as pessoas a organizar-se. Mas também ajudaram alguns ditadores a apanhar dissidentes, através dos seus telemóveis, vendo quem são os seus amigos nas redes sociais, ajudaram-nos a espalhar propaganda online através de bloggers contratados e ajudaram-nos a fazer ataques cibernéticos para desactivar websites que são críticos. Podem encontrar-se exemplos de como é que os movimentos de protesto foram bem sucedidos a gerar dissidentes e participação pública, mas também encontramos factos que permitem dizer que a tecnologia foi usada para a repressão. Não quero retratar a tecnologia como repressiva, só apontei as suas limitações e alertei para a forma como podemos ser mais realistas sobre a confiança que temos na Internet, em que na verdade nós e os que definem políticas públicas não querem absoluta liberdade da Internet – e isso cria um impasse. Por outro lado, isso deixa-nos de mãos atadas e facilita os ditadores a apanhar dissidentes, a fechar websites ou a abolir a Internet, como no Irão. É preciso ver como as coisas mudam tão rapidamente.
(…)
em termos gerais, há que tentar usar ferramentas mais seguras, não levar o telemóvel para todo o lado, usar aplicações para proteger a privacidade, mas também estar consciente de que, se se tornar bem sucedido, o governo pode perseguir e torturar – portanto, é bom ter uma estratégia para resistir a uma eventual perseguição.

Evgueny Morozov, in Público

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