sábado, 18 de fevereiro de 2012

Globalização em Trincheiras




Ainda faz sentido falar em pátria? Ainda vivemos, hoje, num mundo que nos permite colocar a pátria à frente do Humano? Porque é que, na tabela hierarquizada das pátrias, uma vida humana tem diferentes valores? Estabelecem-se valores de vidas humanas por diversas razões: à razão de 1/10.000 se 1 for americano e 10.000 forem africanos; à razão de 1/1 se 1 for americano e 1 for europeu; à razão de 1/10 se 1 for americano e 10 forem trabalhadores chineses de uma fábrica chinesa (sempre que importa expor as atrozes violações do governo chinês); à razão de 1/100, se 1 for americano e 100 forem imigrantes ilegais da América do Sul. Ainda faz sentido insistir numa pirâmide de valores invertida?


John Locke afirmou que "as leis foram feitas para os homens e não os homens para as leis" e, por isso – interpretação minha – nenhuma lei faz sentido se a sua aplicação for contrária ao Homem. Decidir, hoje, sobre o futuro da Europa sem ter presente o Espírito das Leis é tanto mais grave quando, pelo caminho, se parece ter esquecido, igualmente o caminho da História. Todos os dias se decide sobre o nosso futuro contra o nosso futuro; fazem-se leis contra o Homem; destroem-se as pontes de entendimento, paulatina e sofridamente, erguidas – do Atlântico ao Báltico, do Mediterrâneo ao Norte. Todos os dias se destrói a nossa Melhor Juventude!


Durante vários anos, esta nossa natureza estupidificante, acomodativa e rotineira, que coabita em guerra aberta com o inconformismo natural – que de imperfeições e contradições somos plenos – depositou na democracia representativa todas as suas amenas aspirações. Mas, quando os representantes deixam de nos representar, quando a barbárie primária procura irromper pela veia amorfa da nossa apatia e ameaça instalar-se no berço fundador da nossa demo por força do poder, é nosso dever fazer ecoar a nossa voz e defender, como sempre, aquilo que, muitos de nós, nunca viram ameaçada: a dignidade humana.


É atribuída a Tácito a declaração de que “quanto mais corrupta é a República, maior é o número de leis” e, acrescento eu, em República onde proliferam as leis, não pode imperar a defesa do bem comum. Por toda a Europa, exacerbam-se sentimentos de um passado recente, alvitram-se medos e desconfianças, agitam-se as bandeiras dos prós – nacionalistas, imperialistas – e as bandeiras dos anti – europeístas, humanistas – uns e outros, a mesma coisa. Explora-se o atrofio entrópico de uma União Europeia que deixou de conseguir mover o seu corpo porque perdeu a sua base de sustentação – uma comissão desapoderada, um parlamento que nunca teve poder e uns órgãos novos avulsos que nem têm poder, nem legitimidade para o ter.


Imposições morais e moralistas que, bem aplicadinhas, como já foram no passado, provocaram a morte de milhões de pessoas: Guerras de 1 ano, de 3 anos, de 30, de 100, duas Mundiais, genocidárias, coloniais, civis, de classes... Guerras, guerras e mais guerras; exploração, exploração, exploração!

Não! Nesta Europa não! Não feita pelas nossas mãos, não manchada pelo nosso sangue, nunca executada com a arma que é o nosso voto! Daqui, deste cantinho que a todo mundo pertence como a nós pertence todo o mundo, lançamos a nossa revolta, apresentamos a nossa recusa e expressamos a nossa vontade!


Com este texto que por aqui se publica – o centésimo – inicia-se um ciclo de opiniões: tamanho indefinido, contornos obscuros, raízes distintas, mas vozes legítimas. E palavras sábias, bem mais sábias que a minha. Grito próprio - "Basta!"

Objetivo comum: defender a nossa Melhor Juventude!

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