terça-feira, 6 de setembro de 2011

que tontos estes pobrezinhos...



ouvir o primeiro ministro temer a revolta social contra as suas medidas de austeridade e ameaçar com repressão implacável qualquer distúrbio aquece-nos a alma de saudosismo fascista, não aquece?

bem sei que o esforço está a ser bem feito para que o balanço final deste mandato seja igual ao que se fez de 40 aninhos de Salazarismo: "epah, ao menos as contas estavam em ordem". como dizia o zé mário (que todos podemos tratar assim, mesmo sem nunca lhe ter apertado a mão, porque ele é de todos) "uma porra pá, um autêntico desastre o 25 de Abril, / esta confusão pá, / a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa..."

bons tempos esses, da malta sossegadinha, em que se ia ao bolso com propriedade; tempo refrescante esse dos bufos oficiais, que tanta saudade deixa por aí; os ajuntamentos perigosos com mais de três pessoas, os jornais a defenderem o interesse nacional em vez de o denegrirem; ah, e as cargas policiais do país feliz, esse país que continuou depois de abril, um país que ganhou sufixo de ão pelo génio de quem o governou dez anos imerso em maiorias e certezas absolutas. que bons tempos esses...

e que poética esta visão que o primeiro ministro tem dos portugueses em geral, e dos terroristas que usam as redes sociais em particular; todos uns desordeiros que, veja-se, por não concordarem com a política anti-social deste governo, por se sentirem ultrajados quando são, de novo, privados dos seus direitos (os que deviam ser inalienáveis), o direito, inclusivamente, de ter a vida planeada com o dinheiro que é seu e que servia para pagar as contas no final do mês, decidem protestar e manifestar e gritar e barafustar e protestar.

que tontos estes pobrezinhos, que podem ser ameaçados com uma declaração na televisão de que as suas manifestações não serão toleradas e serão esmagadas. que tontos, não somos camaradas?

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