domingo, 4 de setembro de 2011

ignorantes (in)consequentes

quando perguntaram a Assunção Cristas se se sentia preparada para assumir o super ministério da agricultura, ambiente, mar e ordenamento do território a resposta foi um liminar "vou estudar"; a nova ministra ia-se inteirar dos assuntos sobre os quais se iria debruçar. nada contra um aprofundamento sobre as pastas em questão, antes pelo contrário, e nem ponho em causa o conhecimento prévio que já existia. depois existe Paulo Macedo, cujo extenso currículo na área da saúde significava ter sido administrador do BCP, o que incluía os seguros Medis. e, para terminar, Nuno Crato, o professor e senhor eduquês, ele contra o mundo inteiro de ignorantes ignóbeis que pululam pelas salas de aula.

passaram poucos meses desde que estão em função estes ministros, juntamente com os outros, mais o primeiro-ministro tricéfalo (gaspar, coelho e portas). ainda assim, a percepção é bastante clara: a escolha não podia ter sido a melhor para estas três pastas e a missão não podia estar a ser melhor cumprida. depois de todo o estudo e de todo o período de ambientação chegaram as medidas ponderadas:

as escolas vão fechar na mesma, as colocações de professores voltaram a correr de forma desastrada (como no tempo de Santana), as creches vão receber mais crianças por sala e os pais com subsídio de acção social vão ter de comprar os livros primeiro, para serem reembolsados depois.

a Parque Expo e o Arco Ribeirinho Sul já foram à vida, o TGV já era (porque não se podem sobressaltar os vices laranjas e há que honrar as promessas eleitorais, estas pelo menos), várias obras rodoviárias foram suspensas (mesmo aquelas em que apenas está em causa a sua manutenção) e as portagens lá vão ser introduzidas (até que para isso seja necessário contrariar a luta de muito tempo de Macário).

e na saúde, isto parece-me suficiente:
"o que pretendemos é manter um número de transplantes tão interessante e de qualidade como tem vindo a ser feito, mas claramente dando menos incentivos aos hospitais, porque também não é necessário. Estes incentivos visam um incremento e o que nós achamos é que não é necessário haver aqui um incremento."

está tudo muito certo e as nomeações foram perfeitas: nenhum deles precisava de saber nada sobre as pastas que assumiu; todos estão a fazer aquilo que lhes foi pedido - cortar, cortar e cortar.

o problema surge na base das medidas que se tomam por estes dias e a ideologia bárbara que lhes subjaz. sem apelo nem agravo, o estado caritativo e assistencialista que se está a (re)instalar em Portugal é profundamente danoso para todos os portugueses. nem vale muito prolongar tudo quanto já foi (bem) dito (por exemplo, aqui e aqui) sobre o passe social + (estilo google, mas para os pobrezinhos, de carteira, não de espírito); ou sobre o impacte que os aumentos fiscais têm sobre a classe média, sobretudo a média baixa.

o que importa analisar é o que isto provocará a médio e longo prazo. todas estas medidas estão a criar uma barreira, uma linha que a população mais pobre de Portugal não pode ultrapassar. não são só as consequências imediatas de se chegar ao fim do mês sem dinheiro para pagar todas as contas que se tem; são as consequências que são provocadas pelo facto de que tudo o que se tem é apenas para sobreviver. a segurança social em Portugal está a deixar de ser um nivelador social, o peso que traz o equilíbrio entre classes, para passar a ser um perpetuador de desigualdades. quando a luta que se trava diariamente é apenas para aguentar mais um dia, o espírito enfraquece e a pobreza perpetua-se. desaparece a cultura e desaparece a educação mas não desaparece a miséria. e porque se desiludem os correlegionários desta barbárie? não por se usarem as pessoas de forma selvagem e impiedosa, mas porque falta fazer muito mais, porque ainda não se cortou onde se devia cortar, porque ainda não se foi mais longe que a troika.

quando finalmente de lá saírem os ideólogos do capitalismo selvagem, será preciso começar de novo, novamente!

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