terça-feira, 12 de julho de 2011

sobre o relativismo

Estou apreensivo. O relativismo reina por estes dias: já não existe o bonito ou o feio, o bom ou o mau, o certo ou o errado. É tudo relativo e os adjectivos já são quase desnecessários. “É diferente...” parece ser qualificação suficiente para quase tudo.
Não consigo ver as coisas assim e sinto-me apreensivo e inquieto. Há valores absolutos...tem de haver! Não pode haver relativizações nem duas perspectivas quanto à paz, ou quanto à protecção da dignidade humana! São valores absolutos, sempre! A paz será sempre preferível à guerra e nunca haverá nada que justifique a violação dos direitos e da dignidade de um qualquer ser humano!
É fácil relativizar a dor e o sofrimento de quem passa fome e de quem não tem dinheiro para pagar cuidados de saúde dignos. É fácil porque no fim de contas são só números - absolutos, relativos, percentagens - mas números. São 12% de desempregados, mais de 20% dos jovens recém-licenciados que não conseguem trabalho qualificado, 40% de idosos que são vítimas de maus tratos, 1/5 da população portuguesa que vive abaixo do limiar da pobreza, 2/5 que necessitam de subsídios sociais para conseguirem viver... Números e mais números. Tudo relativo.
Mas não há nada de relativo em passar fome. Não há nada de diferente em agonizar na solidão de um quarto bafiento, definhando e apodrecendo, imerso num monte de merda e sangue das vísceras da puta da velhice à espera que a morte venha e a humanidade espere às vezes anos para nos encontrar! Tudo isto é mau, absolutamente mau. Onde se encontra justificação para a alienação e para a indiferença? Como se tolera o sofrimento alheio?
O modelo social europeu nunca foi igual em todos os estados e sempre teve diferentes aplicações nacionais. Sempre foi um conceito abstracto, mas nunca foi relativo! Foi sempre absoluto na determinação de eliminar as desigualdades sociais e de eliminar o sofrimento que estas desigualdades provocam nas pessoas.
Hoje o modelo social europeu é relativo; é um modelo dependente. Depende de haver dinheiro para pagar subsídios, depende de os países terem os deficezinhos em ordem e as cotações do rating upa upa, depende da vontade de fantoches (paradoxal quanto baste) que presidem a comissões que de europeias têm pouco, depende, no mais fantástico de todos os “ses”, de mãos invisíveis que tudo regulam e tudo equilibram. Mas, hoje, as mãos já não são invisíveis e nada equilibram, os fantoches nada decidem, os ratings afinal são maus para a saúde económica (para a neo-liberal, pelo menos - qualquer coisa como murros no estômago) e os deficezinhos é que continuam a ter que estar absolutamente equilibradinhos.
E quando se começa diarrear sobre subsídio-dependência (neologismo demagógico relativamente conveniente) talvez não seja mau parar para pensar sobre o que está certo ou errado. Privatizar as águas (que interessam) é mau; abdicar de estatuto privilegiado em empresas energéticas e estratégicas nacionais está errado; privatizar os correios e os transportes está errado. E colocar a saúde na palma da mão invisível é bárbaro. Ou será que está certo? Diferente é seguramente e, em termos relativos, também deve ser bom... para os números!
Mas o que é verdadeiramente diferente é aquilo que a Europa (a que está “unida”) ainda não percebeu sobre os subsídios. Os subsídios atribuem-se aos números: são x milhares de euros para plantar x número de batatas ou x numero de hectares ou para produzir x número de toneladas de leite. Para as pessoas, as que não são apenas mais um número, procura-se dar conforto e dignidade. E a dignidade não tem preço! Absolutamente nenhum!

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